Wednesday, July 22, 2009

Portal Stalker

“Disse assombro onde outros dizem apenas hábito.”
(Borges em Quase Juízo Final)


O Projeto Portal engloba 6 revistas de contos de ficção científica e fantástico, com periodicidade semestral, editadas pelo sistema de cooperativa. Cada número da revista homenageia, no título, uma obra célebre: Portal Solaris, Portal Neuromancer, Portal Stalker, Portal Fundação, Portal 2001 e Portal Fahrenheit.

O Portal Stalker traz contos inquietantes que vão do universo da ficção científica ao do fantástico, passando pelo da fantasia. São dezoito narrativas sobre novas tecnologias, viagens no tempo, ciberespaço, telepatia, contatos imediatos do terceiro grau, pós-apocalipse, pós-humano, utopias e distopias, de dez autores contemporâneos.
Idealização: Nelson de Oliveira Projeto gráfico e diagramação: Teo Adorno Revisão: Mirtes Leal e Ivan Hegenberg Impressão: LGE Editora

Autores:

Brontops (SP), Ivan Hegenberg (SP), Luiz Bras (SP), Marco Antônio de Araújo Bueno (SP), Maria Helena Bandeira (RJ), Mayrant Gallo (BA), Roberto de Souza Causo (SP), Rodrigo Novaes de Almeida (RJ), Sérgio Tavares (PR) e Tiago Araújo (SP).

http://projeto-portal.blogspot.com
Circularidade Realidade

“Entre a realidade e a imagem, no chão seco que as separa
Quatro pombas passeiam.”
(Bandeira em Imagem)



A morte de Ahmed


O pio tristíssimo da águia da montanha cortou a tarde que morria.
Ahmed Ibn Saud encontrara seu destino e sua morte. Como sempre, girassóis floriam nos jardins.

Ahmed acordou cedo, quando as primeiras estrelas morriam. Lavou barba e cabelo, tomou seu café com pão sovado. Vestiu-se, carregou a pistola, rezou para o Altíssimo, colocou o chapéu desabado e saiu.

Ahmed acordou cedo, quando as primeiras estrelas morriam. Lavou barba e cabelo, tomou seu café com pão sovado. Vestiu-se, carregou a pistola, rezou para o Altíssimo, colocou o chapéu desabado e saiu.
Atravessou os campos verdes, as macieiras em flor, os trigais amarelos, margeou regatos de fontes frescas, ao lado de úmidas violetas, ouviu os sinos que ditavam horas de oração, uma vez, duas vezes, infinitas vezes. Atropelou tílburis e carruagens, sobre sua cabeça passaram aviões e foguetes, a tarde morreu silenciosa e barulhenta. Seus passos criavam sulcos na areia quente do deserto, onde os cactos lançavam braços ressequidos para o céu e a lua pálida surgia, quando avistou o vulto que esperava.

Ahmed acordou cedo, quando as primeiras estrelas morriam. Lavou barba e cabelo, tomou seu café com pão sovado. Vestiu-se, carregou a pistola, rezou para o Altíssimo, colocou o chapéu desabado e saiu.
Atravessou os campos verdes, as macieiras em flor, os trigais amarelos, margeou regatos de fontes frescas, ao lado de úmidas violetas, ouviu os sinos que ditavam horas de oração, uma vez, duas vezes, infinitas vezes. Atropelou tílburis e carruagens, sobre sua cabeça passaram aviões e foguetes, a tarde morreu silenciosa e barulhenta. Seus passos criavam sulcos na areia quente do deserto, onde os cactos lançavam braços ressequidos para o céu e a lua pálida surgia, quando avistou o vulto que esperava.
Mais alguns minutos, defrontaram-se contra o horizonte imenso. Dois homens de negro, a mesma silhueta magra.

Ahmed acordou cedo, quando as primeiras estrelas morriam. Lavou barba e cabelo, tomou seu café com pão sovado. Vestiu-se, carregou a pistola, rezou para o Altíssimo, colocou o chapéu desabado e saiu.
Atravessou os campos verdes, as macieiras em flor, os trigais amarelos, margeou regatos de fontes frescas, ao lado de úmidas violetas, ouviu os sinos que ditavam horas de oração, uma vez, duas vezes, infinitas vezes. Atropelou tílburis e carruagens, sobre sua cabeça passaram aviões e foguetes, a tarde morreu silenciosa e barulhenta. Seus passos criavam sulcos na areia quente do deserto, onde os cactos lançavam braços ressequidos para o céu e a lua pálida surgia, quando avistou o vulto que esperava.
Mais alguns minutos, defrontaram-se contra o horizonte imenso. Dois homens de negro, a mesma silhueta magra.
O último raio de sol que atingiu seus olhos, revelou o rosto do oponente. Seu coração estremeceu de horror e reconhecimento, mas a mão foi certeira. Matou-o com um único tiro.

O pio tristíssimo da águia da montanha cortou a tarde que morria.Ahmed Ibn Saud encontrara seu destino e sua morte. Como sempre, girassóis floriam nos jardins.



*****


A promessa do tigre



As grades enferrujadas rangeram sob o peso da mão, rasgando os galhos que a prendiam. Anos de decadência cobriram de pátina verde o muro e o santuário. No jardim esquecido um odor de eternidade, bafio úmido de decomposição e renascimento.

O esplêndido El Tigre repousava, diante dos seus olhos deslumbrados.
Apesar do castigo dos anos permanecia o brilho da esmeralda dos olhos, onde os últimos raios de sol desfaleciam, anunciando as primeiras estrelas.

O peregrino caiu de joelhos.


***

A estrada arrastava-se, interminável reta poeirenta. O sol causticante amainava seu rubor num poente vermelho que se confundia com a terra ao redor. Trezentos e sessenta graus de fogo.
Aos poucos, firmando a vista com cuidado percebeu a sombra formada pelas árvores do santuário. Depois de um dia inteiro de caminhada, ia conhecer El Tigre.

Estava chegando, afinal.

***

Na fornalha do meio-dia, o amarelo transformara as árvores ressequidas em fantasmas negros contra seu brilho cegante. Nem uma folha se movia. O calor era absoluto manto de espessa córnea. Não sabia como chegar lá. Não havia mapas, não havia rotas, ninguém nunca voltara do santuário. Nem mesmo tinha certeza se existia, realmente, um santuário ou fora um sonho do seu coração a palavra de El tigre no seu ouvido. Mesmo assim , preparara o manto e o cajado e estava ali, caminhando em direção a ele.

***

Amanhecia, quando retirou os objetos do altar. Bebeu da água da fonte, Dobrou os panos sagrados e separou os pães secos e o cantil para a longa viagem.

***

A noite estava silenciosa de presságios. Pela última vez encarou o tigre, o desânimo encerrando seu coração. A estátua, uma cópia em miniatura daquela que deveria existir no santuário perseguido, brilhava à luz das estrelas e das inúmeras velas ao seu redor.
Com as mãos cansadas, abriu o livro tantas vezes visitado, tantas vezes manuseado e repetiu a invocação. Um arrepio percorreu seu corpo magro, acentuando os mistérios
Com a voz de séculos perdidos, El Tigre sussurrou no seu ouvido
Vá em peregrinação ao Santuário de Ilah Khaden.

Lá encontrarás o que procuras – a vida eterna, que significa o Eterno Retorno ao ponto de partida.

O peregrino caiu de joelhos.


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