Planou, lentamente, sobre o solo castigado.
Terra calcinada se estendia por quilômetros, até onde seus olhos conseguiam avistar, com alguns arbustos retorcidos, enegrecidos pela seca, resistindo, ninguém sabe como, ao sol inclemente.
Raios avermelhados tingiam o azul do céu, trazendo uma ligeira brisa - ou seria ilusão de seus sentidos entorpecidos?
As asas pesavam. Ele sabia que teria que descansar, mas não achava o local apropriado. Finalmente, avistou um arbusto, onde a terra parecia menos fendida e desceu, suave, economizando as forças.
Tinha dificuldade para respirar. O ar era fornalha perto do solo. Não sentia mais a brisa, se é que ela existira.
O céu intensificou o azul próximo aos alaranjados e vermelhos febris do poente.
Pousou no arbusto e começo a separar com o bico machucado alguns galhos para a fogueira. O esforço provocou uma tonteira forte. Chegou a pensar que não conseguiria. O calor se tornara insuportável e a noite se avizinhava rapidamente. Era preciso esquecer a fraqueza.
Pouco a pouco, em pequenos vôos sofridos, levou os ramos até o local escolhido. Quando tinha o suficiente, cambaleou, as asas se arrastaram na poeira vermelha. Recuperou-se com dificuldade. Não conseguia mais voar.
Sofrendo, com dores por todo o corpo, uma só chama ardente, sentou-se sobre os galhos e aguardou.
O último raio do sol, como acontecia desde seus primeiros ancestrais, acendeu a pira.
Os gravetos se incendiaram rapidamente e ele, imóvel, deixou que o fogo lambesse as penas, devorasse as asas doloridas, as pernas cansadas, o bico machucado, purificando o sofrimento, consumindo a angústia, apagando o passado.
Logo, apenas um monte de cinzas restava sobre a terra inclemente.
Com um último esforço de vontade, aglutinou as cinzas para a transformação, a alquimia do reinicio.
Substância alva foi surgindo do negrume, sob o olhar das estrelas indiferentes. Multiplicando-se, crescendo, desdobrando-se, até formar o Ovo.
Descansou por algumas horas.
Quando os primeiros raios de sol surgiram, ele rompeu a casca, colocou para fora o corpo vigoroso e estendeu as penas brilhantes contra o céu.
Respirou profundamente o ar da manhã, experimentou de leve as asas e, com um pequeno impulso, voou na direção do Oriente, subindo cada vez mais rápido, até se perder no azul.
Tudo permaneceu parado - a terra castigada, o vento quente, o sol abrasador.
O impossível se fez outra vez e foi embora para amanhã.
Terra calcinada se estendia por quilômetros, até onde seus olhos conseguiam avistar, com alguns arbustos retorcidos, enegrecidos pela seca, resistindo, ninguém sabe como, ao sol inclemente.
Raios avermelhados tingiam o azul do céu, trazendo uma ligeira brisa - ou seria ilusão de seus sentidos entorpecidos?
As asas pesavam. Ele sabia que teria que descansar, mas não achava o local apropriado. Finalmente, avistou um arbusto, onde a terra parecia menos fendida e desceu, suave, economizando as forças.
Tinha dificuldade para respirar. O ar era fornalha perto do solo. Não sentia mais a brisa, se é que ela existira.
O céu intensificou o azul próximo aos alaranjados e vermelhos febris do poente.
Pousou no arbusto e começo a separar com o bico machucado alguns galhos para a fogueira. O esforço provocou uma tonteira forte. Chegou a pensar que não conseguiria. O calor se tornara insuportável e a noite se avizinhava rapidamente. Era preciso esquecer a fraqueza.
Pouco a pouco, em pequenos vôos sofridos, levou os ramos até o local escolhido. Quando tinha o suficiente, cambaleou, as asas se arrastaram na poeira vermelha. Recuperou-se com dificuldade. Não conseguia mais voar.
Sofrendo, com dores por todo o corpo, uma só chama ardente, sentou-se sobre os galhos e aguardou.
O último raio do sol, como acontecia desde seus primeiros ancestrais, acendeu a pira.
Os gravetos se incendiaram rapidamente e ele, imóvel, deixou que o fogo lambesse as penas, devorasse as asas doloridas, as pernas cansadas, o bico machucado, purificando o sofrimento, consumindo a angústia, apagando o passado.
Logo, apenas um monte de cinzas restava sobre a terra inclemente.
Com um último esforço de vontade, aglutinou as cinzas para a transformação, a alquimia do reinicio.
Substância alva foi surgindo do negrume, sob o olhar das estrelas indiferentes. Multiplicando-se, crescendo, desdobrando-se, até formar o Ovo.
Descansou por algumas horas.
Quando os primeiros raios de sol surgiram, ele rompeu a casca, colocou para fora o corpo vigoroso e estendeu as penas brilhantes contra o céu.
Respirou profundamente o ar da manhã, experimentou de leve as asas e, com um pequeno impulso, voou na direção do Oriente, subindo cada vez mais rápido, até se perder no azul.
Tudo permaneceu parado - a terra castigada, o vento quente, o sol abrasador.
O impossível se fez outra vez e foi embora para amanhã.
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