Sunday, February 04, 2007

Mardeley, no verão

“Last night I dreamt that I went to Mardeley again"



Parece estranho lembrar do presente.

Os dias de verão não escorreram para nenhum lugar, permanecem. Cheiro de maresia, barcos que escapam em direção ao sonho, as fitas do chapéu embaraçadas por causa do vento e você me dizendo: linda. A água brilha no seu cabelo que cai na testa, eu sorrio e respondo: bobo. Havia, há, conchinhas brilhantes em Mardeley. Fazemos coleção perto da pedra grande, você esconde a mais bela. Troca por beijos, a rocha é quente, seu rosto também. Finjo estar zangada, arrumo os fios de onde caem pequenas bolhas de água. Passo os dedos de leve neles e Mardeley gira.

Tento uma oração, Deus me ajude, ele não ajuda. A noite escorre negra em Mardeley o mar bate nas pedras uma, duas, três, mil vezes. Então me viro na cama e peço um comprimido.
Finalmente! - alguém diz. A voz envolta numa bolha. Pego o copo sem tremer. Ao meu redor Jean Claude ri, esconde as conchas.


- Ela acordou?

- Mais ou menos. Pensa estar em Mardeley

- Mardeley? De onde tirou isto?

- Sei lá, coisa de maluco.

A areia fina escorre nos meus dedos. Está quente: você diz. Segura minha mão. Depois me beija. Sua boca tem gosto de sal. O mar brilha forte, fecho os olhos para não me afogar. Então você apanha as conchas todas e me entrega. O sol é forte demais em Mardeley, talvez eu esteja tonta.

A voz borbulha num oco pastoso:

- Margarida?
- Ela não atende assim. Marguerite?

Abro os olhos e encontro outros, severos, cruéis:

- Sabe onde está?
- Em Mardelay
- Não, no Sanatório Santa Isabel. Pare de fingir. Você não é louca. Não existe Mardeley

- Como tem certeza?

Jean Claude se aproxima por trás, fazendo sinal com o dedo sobre os lábios. A maresia está forte e eu resisto ao desejo de rir.

Os olhos cruéis se fecharam, corpo caiu sobre a areia quando a pedra atingiu a cabeça.

- Você não o matou, Jean?
- Não. Está só adormecido. Quantas conchas mereço?
- Dez - respondi sorrindo.


Seu cabelo molhado. e brilhante. Uma gota de suor escorreu por meus lábios.
Faz muito calor em Mardeley no verão.

4 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Adorei. Copiei e levei comigo.

Um abraço, Helena.

8:56 AM  
Anonymous Anonymous said...

Merrelzita,

Lindo demais... Tava precisando ler algo assim... abri minha caixa postal e estava lá na cor do ovo azul turqueza...

Beijo,

Beto

9:46 AM  
Anonymous Anonymous said...

Helena,
Muito obrigada por Maderley, é um lindo lugar neste verão que passou e permanece.
São tantos os verões que insistem em ficar. A minha pele não guardou o sol, mas minha alma continua dourada...não é estranho lembrar do presente.
Beijo,
Nédier

6:03 AM  
Blogger Angela said...

O texto é lindo, suave e misterioso. Lembrou-me Marquerite Duras...
É tão bom ler textos sensíveis!
Um abraço da Angela.

7:06 PM  

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