O CARA DO CONTRABAIXO
em algum lugar do passado
Ele tirou o cigarro da boca, bateu no cinzeiro, tocou de leve as teclas e perguntou:
- O que você quer?
Ah eu queria muito mais do que uma simples música, ele sabia bem, mas era esta mensagem não dita que, antes, tornava mais denso o laço que nos unia.
Engoli em seco e respondi:
- Cole Porter
Sorriu, colocou o cigarro no canto da boca e começou... tocando as teclas devagar, amorosamente, como me preparava para o amor.
A música, nossa música.
Acompanhava o ritmo com a cabeça, com os pés, com o corpo (e eu também seguia atrás) inundando de tons a tarde clara.
O apartamento estava escuro contra a luz que morria lá fora. Permanecíamos assim, unidos pelo som. O contrabaixo esquecido em um canto, hoje era dia de piano, dia de percorrer rios e cachoeiras.
Nós. Silhuetas caladas, mas tão unidas que uma simples palavra quebraria o encanto.
Cole Porter.
Ele terminou a nota macia e me agarrou. Me pegou com violência, como era seu feitio quando mais estávamos perdidos de paixão.
Me empurrou contra o piano, levantou minha saia e me fez percorrer outras cachoeiras, me fez derreter em outros rios. Calados, nos amamos, machucando teclas, gemendo apenas, na escuridão que se adensava.
Então , ele me largou de repente, apanhou o contrabaixo, andou até a porta, pegou o maço de cigarros sobre o piano, olhou longamente para mim, como se decorasse cada detalhe e saiu.
Foi embora, para nunca mais voltar.
Ele tirou o cigarro da boca, bateu no cinzeiro, tocou de leve as teclas e perguntou:
- O que você quer?
Ah eu queria muito mais do que uma simples música, ele sabia bem, mas era esta mensagem não dita que, antes, tornava mais denso o laço que nos unia.
Engoli em seco e respondi:
- Cole Porter
Sorriu, colocou o cigarro no canto da boca e começou... tocando as teclas devagar, amorosamente, como me preparava para o amor.
A música, nossa música.
Acompanhava o ritmo com a cabeça, com os pés, com o corpo (e eu também seguia atrás) inundando de tons a tarde clara.
O apartamento estava escuro contra a luz que morria lá fora. Permanecíamos assim, unidos pelo som. O contrabaixo esquecido em um canto, hoje era dia de piano, dia de percorrer rios e cachoeiras.
Nós. Silhuetas caladas, mas tão unidas que uma simples palavra quebraria o encanto.
Cole Porter.
Ele terminou a nota macia e me agarrou. Me pegou com violência, como era seu feitio quando mais estávamos perdidos de paixão.
Me empurrou contra o piano, levantou minha saia e me fez percorrer outras cachoeiras, me fez derreter em outros rios. Calados, nos amamos, machucando teclas, gemendo apenas, na escuridão que se adensava.
Então , ele me largou de repente, apanhou o contrabaixo, andou até a porta, pegou o maço de cigarros sobre o piano, olhou longamente para mim, como se decorasse cada detalhe e saiu.
Foi embora, para nunca mais voltar.
3 Comments:
Uau! As cores indefinidas do ambiente chegaram por aqui, numa assimilação do texto violenta...
Lindíssimo...
Beijo,
Beto
Em algum lugar do passado
alguém "Foi embora, para nunca mais voltar." É tão lindo quanto triste e, sei lá porque, me ocorre, como ao poeta: "- eu não sei como dizer-te que cem idéias, dentro de mim, te procuram."
Beijo,
Nédier
Lindo! até a escolha de Cole Porter, não importa o que!
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