Quando entrava estavam lá, perfilados.
Você pode não acreditar, mas mudavam de posição durante a noite.
Mãe dizia que sou miolo mole, era velha, ninguém ouvia, conversava com as plantas. Planta fala? Claro que não. Miole mole. Dormia com o canário na cama, o pobre morria esmagado um dia. Todo dia.
Todo dia era de missa.
Sei não, tem vento arredondado nas beiradas e pardais mensageiros. Eu suspiro de tédio e se não fossem eles, me enviava daqui, num envelope rosa. Perfumado de canela. Você acredita?
Mãe e pai eram beatos, beija-mão de padres. Um boneco careca e caradura como o outro. Mas de noite se ria.
Quando o papel acabava, a cola, Sebastian me dava. Relava mão em mim, ficava quieta. Quero é fazer gente, mas não acabada, gente que fica muda e se move de noite, lentamente. Quero é construir pessoas que me amam longe das missas e dos dedos. Sebastian ria safado, eu ficava séria.
Tudo negócio. Nada além do apalpado e consentido.
Tem um deles também, coisa ruim, levou chute, ficou quebrado. Não rela mão em menina nenhuma das minhas. Sebastian de papel, coisa ridícula. A noite é de papoulas e relógios.
Tenho medo, você sabe? medo dos vivos.
Que me descubram no pecado deles, na alegria. Longe das missas e das rezas, perto do alecrim do seu cheiro, Renato, olhos de bola azul, me bolinando. De noite eu sou rainha dos meus pares, abro em flor, margarida, rosa, papoula, lagartas.
Borboleta suspensa esperei a hora.
Ela veio e não sobrou pedra.
Não tive culpa. Não mesmo. Criei todos pro bem, mas a revolta clama.
Deve ter sido isto. Sangue de Cristo tem poder sobre os bonecos não.
Padre no poço. Mãe e pai na cozinha e eu, quem sabe agora? voando pela janela andorinha.
Em envelope rosa. Perfumado de canela.
Você pode não acreditar, mas mudavam de posição durante a noite.
Mãe dizia que sou miolo mole, era velha, ninguém ouvia, conversava com as plantas. Planta fala? Claro que não. Miole mole. Dormia com o canário na cama, o pobre morria esmagado um dia. Todo dia.
Todo dia era de missa.
Sei não, tem vento arredondado nas beiradas e pardais mensageiros. Eu suspiro de tédio e se não fossem eles, me enviava daqui, num envelope rosa. Perfumado de canela. Você acredita?
Mãe e pai eram beatos, beija-mão de padres. Um boneco careca e caradura como o outro. Mas de noite se ria.
Quando o papel acabava, a cola, Sebastian me dava. Relava mão em mim, ficava quieta. Quero é fazer gente, mas não acabada, gente que fica muda e se move de noite, lentamente. Quero é construir pessoas que me amam longe das missas e dos dedos. Sebastian ria safado, eu ficava séria.
Tudo negócio. Nada além do apalpado e consentido.
Tem um deles também, coisa ruim, levou chute, ficou quebrado. Não rela mão em menina nenhuma das minhas. Sebastian de papel, coisa ridícula. A noite é de papoulas e relógios.
Tenho medo, você sabe? medo dos vivos.
Que me descubram no pecado deles, na alegria. Longe das missas e das rezas, perto do alecrim do seu cheiro, Renato, olhos de bola azul, me bolinando. De noite eu sou rainha dos meus pares, abro em flor, margarida, rosa, papoula, lagartas.
Borboleta suspensa esperei a hora.
Ela veio e não sobrou pedra.
Não tive culpa. Não mesmo. Criei todos pro bem, mas a revolta clama.
Deve ter sido isto. Sangue de Cristo tem poder sobre os bonecos não.
Padre no poço. Mãe e pai na cozinha e eu, quem sabe agora? voando pela janela andorinha.
Em envelope rosa. Perfumado de canela.
6 Comments:
O detalhe que mais me chamou atenção foi o perfume do envelote. Gostei.
Passi para lhe conhecer.
Beijo.
com um texto destes, é só silêncio depois da leitura.
beijos
rubens
Borboleta suspensa em folhas de canela e com seus lindos olhos azul-turqueza a fitar o céu...
Rsss,
Mar
Te beijo.
Maravilha de texto me fez viajar longe longe além dos morros verdes de cume pelado.
Beijo
Vera
Um exercício lúdico-dramático...
Círculo aberto, espiral indefinida, contornos móveis...
uma happeningexperiência...
da arte do dessossego
do subconsciente falante...
beijos,
Cla.
Helena, lindo, lindo, lindo "perfumado de canela"
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