LIÇÃO DE CASA
Pintura Gustav Klimt
Ela chegou iluminada. Cheirava a pecado, toda trêmula de susto e de tesão, a culpa escorrendo pelos poros como mel.
E a gente bebia as palavras do errado com delícia.
E o não devido, o proibido se tornava para nós elixir suculento e sorvíamos as palavras, a serpente subindo pelas pernas, calor afogueando os braços nus.
Era verão ainda por cima, o inferno parecia mais próximo da pecadora e como queríamos arder também no caldeirão!
Ela falava - o peito arfando, a voz velada de desejo, o medo percorrendo o cio.
Nós escutávamos com os dedos trêmulos, bebíamos a história alheia com volúpia. Era nossa guia no caminho da transgressão e ouvíamos caladas, vivendo seus meandros, aguardando um desfecho que nunca vinha, o castigo temido e ansiado para afastar aquela idéia perniciosa de que era possível ser feliz errando.
Os corpos suados de meninas esperavam cada minuto do relato com coração suspenso. E ela nos guiava pelos igarapés do erro nas certezas sábias de paixão. Nossa lanterna no rio escuro do desejo era a carne trêmula e o olho aceso dela conduzindo o barco.
Temíamos o naufrágio? Sim, temíamos. Mas parecia tão forte estar ali ouvindo o despenhadeiro, percebendo o eco da garganta perigosa que nos esperava. E escutávamos tensas de safadeza, lânguidas de culpa, o mal-feito alheio.
Quando os adultos chegaram, desfazendo o encanto, cada uma de nós já se tornara, irremediavelmente, uma rebelde mentirosa.
E sabíamos, para o resto da vida, que o pecado tem mérito.
Pintura Gustav Klimt
Ela chegou iluminada. Cheirava a pecado, toda trêmula de susto e de tesão, a culpa escorrendo pelos poros como mel.
E a gente bebia as palavras do errado com delícia.
E o não devido, o proibido se tornava para nós elixir suculento e sorvíamos as palavras, a serpente subindo pelas pernas, calor afogueando os braços nus.
Era verão ainda por cima, o inferno parecia mais próximo da pecadora e como queríamos arder também no caldeirão!
Ela falava - o peito arfando, a voz velada de desejo, o medo percorrendo o cio.
Nós escutávamos com os dedos trêmulos, bebíamos a história alheia com volúpia. Era nossa guia no caminho da transgressão e ouvíamos caladas, vivendo seus meandros, aguardando um desfecho que nunca vinha, o castigo temido e ansiado para afastar aquela idéia perniciosa de que era possível ser feliz errando.
Os corpos suados de meninas esperavam cada minuto do relato com coração suspenso. E ela nos guiava pelos igarapés do erro nas certezas sábias de paixão. Nossa lanterna no rio escuro do desejo era a carne trêmula e o olho aceso dela conduzindo o barco.
Temíamos o naufrágio? Sim, temíamos. Mas parecia tão forte estar ali ouvindo o despenhadeiro, percebendo o eco da garganta perigosa que nos esperava. E escutávamos tensas de safadeza, lânguidas de culpa, o mal-feito alheio.
Quando os adultos chegaram, desfazendo o encanto, cada uma de nós já se tornara, irremediavelmente, uma rebelde mentirosa.
E sabíamos, para o resto da vida, que o pecado tem mérito.
7 Comments:
Nossa!!!
Não sei se é poema, não sei se é prosa, mas seja o que for, é muito bom! É lindo, é belo e é delicioso.
Deu uma vontade de pecar!!! Ainda bem que já passei da época...rsrsrsrs
Beijos
Mhel,
Este eu n u n c a tinha lido, muito mhel, muito bom e adoro tb esta ilustraçao, este Klimt. Tenho um livro lindo sobre ele que ganhei de presente.
Beijocas
Mhel, vamos pecar?
beijos,
Tom
Mhel,onde foi que eu li este teu texto sem ser aqui?
Ele é belíssimo e lembrei assim que
iniciei a ler.
Se não foi em outro lugar,tive um 'deja vu', porque esperava pelas palavras antes de lê-las.
Encantou-me.
belo demais.
beijos,Tania
Piração, disse o Zé!
vontade de pecar, Saramar.
Adoçou a mhel, a Leila.
Tom quer pecar junto.
Tania encantada está.
E eu? pobre mortal? tudo isso e muito mais.
Você é perfeita, sorella.
baci
Se eu não me engano, Mhel, votei nesse texto para o quarto ou quinto livro, não foi?
Mas ele não foi o seu escolhido.
:o))
beijos
te amo
Querida Mhel
Sincronicidade existe. Depois de um longo tempo, volto a postar no Almas Inquietas e respondo aos comentários delicados dos amigos e visitantes. Aí vem a sincronicidade:
Acabei de colocar um post sobre serpentes e desejo. Venho aqui e leio este texto lindo, lindíssimo, sensual.
Sou sua fã, sempre, embora comentarista sazonal.
Um beijão.
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