Eram nove ou dez da noite quando a eletricidade foi cortada e ficamos no escuro.
Ao redor da casa, silêncio enorme. Nem um pio de coruja.
Peguei o lampião, tentei auscultar a alma. Voz que não se ouvia, de nenhum lugar.
No espelho vi a cara de meu medo. Marido dormia no sofá , nem se mexeu. Peito apertou, gemeu de dor.
Foi quando o vento veio. Forte, masculino, raiz de terebinto, perfume de homem, com canela. Entrou pelas narinas, percorreu o ventre. Eu abri a porta, braços, pernas, montei no seu cavalo de cheiros, me perdi.
Quando voltei, marido se acordou.
- Você está diferente.
Respondi apenas
– Bestagem. Dorme.
No meio das pernas latejava, borboleta negra da lembrança.
1 Comments:
No meio das pernas latejava borboleta negra da lembrança.
parabéns, querida.
você arrasa.
sua sensibilidade é algo escandalosamente belo.
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