Sunday, February 05, 2006

A FORÇA DE UM GUERREIRO




Pintura Paul Christiaan Bos



- Amaldiçoado sejas, Abn El Taruz! Amaldiçoado teu nome em todo universo e por todos os tempos!

Abaixou os braços descarnados, veias grossas e azuis se destacando na brancura de cera.
Depois olhou para baixo.

O ovo pulsava conectado aos tubos, rios sendo ejetados dentro dele. Sangue e esperma, células que nutriam e mantinham o sopro vital.

Em alguns pontos já se esgarçava a carne frágil, apodrecida, esverdeada.

Ela tentava não ver.

Krion e Demeter se aproximaram, igualmente esquálidos e brancos, olhos enormes nas cabeças onde os poucos cabelos caiam desalinhados e sem vida. Pareciam fetos adultos, dor de não ser total, uma entrega absoluta.

- Acha que resiste?
- Tem que resistir. - respondeu seca.

Embaixo deles o Ovo se mantinha no ritmo habitual, envolto em gelo.

Quando Abn fugira levando a vida, conservaram a esperança no Ovo, alimentando-o com seu sangue e semente para que fosse o novo Messias de Elad. Todos morreriam de fome e radiação, Mas ele fora gerado com tecnologia superior e era nutrido de forma especial.

Só que o tempo e a natureza corriam contra eles. Não tinham mais forças para doar, com os alimentos limpos escassos, as mahalas criadas em cativeiro morrendo antes de dar leite.

Da torre envidraçada olhou para os pântanos ao redor - crateras borbulhantes de veneno.

- Ele será capaz de sobreviver onde não somos.

Os dois concordaram silenciosos.
Voltavam para os domos, quando um clarão riscou o céu.

- Maldito! Sibilou a monja levantando os braços em direção á luz
- É ele? - perguntaram os outros voltando para a sala da gestação... tem certeza?
- Absoluta. Conheço seu padrão cerebral.
- E por que voltou?
- Para rir de mim, para nos humilhar. Assim é Abn. Para destruir o Ovo talvez.

Sua voz ficou tensa.

A nave pratada pousou suavemente entre duas crateras.

Logo depois, a porta envidraçada se abriu.
Era de novo Abn. Saudável, irônico, egoísta.

A monja virou de costas, enquanto outros se inclinavam assustados.

- O que veio fazer aqui? palavras trincadas no ódio.
- Ver você, duscha.

O apelido doce cortando, faca certeira.
A Monja acionou o mecanismo sem olhar para trás.

Abn caiu sobre o Ovo que estremeceu em espasmos sangrentos.

O guerreiro se empenhou numa luta contra a carne esponjosa por intermináveis minutos, enquanto a monja e os dois eladianos olhavam silenciosos.

Finalmente se libertou, atirando contra o núcleo e cortando a nutrição central. O ovo foi murchando, cinzento, deixando escorrer a espuma sangrenta.

Saltou para a base e olhou para eles.

- Nojentos. Todos vocês.

Cuspiu para o lado.

- Nem vou me dar ao trabalho de mata-los. Estão mortos. Nasceram mortos como sua abominável criação.

No interior do Ovo cinzento, células se reproduziram com velocidade espantosa.

Antes que Abn alcançasse a nave, Ele explodiu a grade de vidro e o atingiu.

A monja suspirou, quase sem voz:

- Dei ao Ovo o que precisava. A força de um guerreiro saudável.

3 Comments:

Blogger Vera Vilela said...

Texto maravilhoso, vibrante, com gostinho de "não termina logo não"

E as imagens menina, essa em especial, uma luz expetacular...uauuuuuuuu

2:05 PM  
Blogger parla marieta said...

Concordo com a Vera Luz.
O seu bom gosto e sensibilidade na escolha das imagens, são de emocionar.
Beijos de muita luz e orgulho de ser sua amiga.

8:00 AM  
Anonymous Anonymous said...

Mhel,
Embora tenha gostado mais de Pela Deusa, este A Força de Um Guerreiro, também é muito bom.
Comparando-o com Pela Deusa, sinto que você pôde neste último esmerar-se mais na forma,enquanto em Pela Deusa o enfoque foi nas idéias.
De qualquer modo apreciei ambos. A Força de Um Guerreiro li com uma atenção bem especial, afinal trata-se de uma FC. Uma ótima FC, aliás.
Parabéns, amiga.
Rita.

8:28 PM  

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