PELA DEUSA
Pintura Gustav Klimt
Eu acreditei em Petrus Amon Teth, o Elevado.
Como todos naquela época.
Enviei discos de propaganda que percorreram o território Valgoo e alimentei com meu leite as simbalas, abatidas para o banquete da vitória. Gastei os próprios pés e mais alguns, adquiridos em Moebius seguindo seus shows e comícios, trançando guirlandas de abelhas, atirando em ziguts inimigos, bebendo sangue ardente nas noites sem luas.
No dia da vitória estava na primeira fila dos barcos, singrando o mar de algodão em direção ao Zenith.
Fui lâmina e lupa, pesadelo e esperança. Eu fui seu tudo e seu nada, seu meio e seu fim.
Vi o exercito petroriano esmagar as populações que comerciavam às margens do Estinges e derrubar os muros de Alma e Singhor. Acompanhei os passos da decadência quando fartos de carne e luxuria se amontoaram em carniças nos diques de Alambra.
Cada vez mais gordo e oleoso, os cabelos grudados ao crânio redondo, vi sua imensa boca jamais saciada, seu pênis nunca flácido, a procura de toda a comida humana ou zigota, ardeliana, almíca ou singhata. Vi-o abandonar a luta, se entregar à devassidão e ao ócio.
Então eu decidi agir.
Todas as luas negras, Petrus levantava dos coxins o enorme corpanzil e era carregado até as águas da purificação. Lá, em meio ao fedor do enxofre e ao borbulhante líquido azulado, pedia perdão à Deusa e ofertava nove jovens virgens nuas a Seu serviço.
Eu estaria entre elas. Manobrei para conseguir, subornei, comprei, menti e matei. Virgem não sou, mas me tornei. Em Moebius comprei a peso de ouro um corpo escultural. Conhecia, como ninguém, o gosto de Petrus.
Durante o ritual, trabalhei para que me visse, para que seus olhos contemplassem minha beleza e mocidade. Triunfei.
Vi olhos ávidos me percorrerem, dancei como nunca, como sabia que era preciso.
Ele desafiou a Deusa e me chamou para a sua tenda.
A lua negra pesava e relâmpagos cortavam o ar em chamas violetas. Um silêncio mole percorria as flores apagadas ao redor. Soprava um vento de cadáveres.
Entrei na tenda e me curvei. Ele flechou meu corpo, me despiu. De todo jeito o satisfiz, como prostituta cristã, marafona zagaia, cortesã de alambra.
Chafurdava ainda em mim quando o raio de Lilith penetrou a tenda, gelado.
Deu um salto, assustado, gelatina de pavor .
Tarde demais. Nossa Deusa entrou pelos seus olhos, comeu os ouvidos, derrubou o sexo pagão.
Quando os outros o encontraram, remoçado e alegre, era Petrus Amon Teth na aparência.
Na verdade era eu.
Pintura Gustav Klimt
Eu acreditei em Petrus Amon Teth, o Elevado.
Como todos naquela época.
Enviei discos de propaganda que percorreram o território Valgoo e alimentei com meu leite as simbalas, abatidas para o banquete da vitória. Gastei os próprios pés e mais alguns, adquiridos em Moebius seguindo seus shows e comícios, trançando guirlandas de abelhas, atirando em ziguts inimigos, bebendo sangue ardente nas noites sem luas.
No dia da vitória estava na primeira fila dos barcos, singrando o mar de algodão em direção ao Zenith.
Fui lâmina e lupa, pesadelo e esperança. Eu fui seu tudo e seu nada, seu meio e seu fim.
Vi o exercito petroriano esmagar as populações que comerciavam às margens do Estinges e derrubar os muros de Alma e Singhor. Acompanhei os passos da decadência quando fartos de carne e luxuria se amontoaram em carniças nos diques de Alambra.
Cada vez mais gordo e oleoso, os cabelos grudados ao crânio redondo, vi sua imensa boca jamais saciada, seu pênis nunca flácido, a procura de toda a comida humana ou zigota, ardeliana, almíca ou singhata. Vi-o abandonar a luta, se entregar à devassidão e ao ócio.
Então eu decidi agir.
Todas as luas negras, Petrus levantava dos coxins o enorme corpanzil e era carregado até as águas da purificação. Lá, em meio ao fedor do enxofre e ao borbulhante líquido azulado, pedia perdão à Deusa e ofertava nove jovens virgens nuas a Seu serviço.
Eu estaria entre elas. Manobrei para conseguir, subornei, comprei, menti e matei. Virgem não sou, mas me tornei. Em Moebius comprei a peso de ouro um corpo escultural. Conhecia, como ninguém, o gosto de Petrus.
Durante o ritual, trabalhei para que me visse, para que seus olhos contemplassem minha beleza e mocidade. Triunfei.
Vi olhos ávidos me percorrerem, dancei como nunca, como sabia que era preciso.
Ele desafiou a Deusa e me chamou para a sua tenda.
A lua negra pesava e relâmpagos cortavam o ar em chamas violetas. Um silêncio mole percorria as flores apagadas ao redor. Soprava um vento de cadáveres.
Entrei na tenda e me curvei. Ele flechou meu corpo, me despiu. De todo jeito o satisfiz, como prostituta cristã, marafona zagaia, cortesã de alambra.
Chafurdava ainda em mim quando o raio de Lilith penetrou a tenda, gelado.
Deu um salto, assustado, gelatina de pavor .
Tarde demais. Nossa Deusa entrou pelos seus olhos, comeu os ouvidos, derrubou o sexo pagão.
Quando os outros o encontraram, remoçado e alegre, era Petrus Amon Teth na aparência.
Na verdade era eu.
6 Comments:
Não dá prea comentar, quem sabe, sabe,
Maravilha!
to aqui babando!
Mehel, Mehel...! Sabia que você era ótima, mas me emocionei!!
Beijos,
K
Mhel,
Um texto realmente fantástico! Brilhante e lírico na execução e perfeito na narrativa até o final (que foi surpreendente).
Sem dúvida, um de seus melhores textos.
Parabéns
Rita.
Recorri a todos os meus entes ligados à terra, à mãe e ao ser neste mundo para tentar me aproximar dessa poderosa mulher. Ainda não consegui. Terei que voltar com outros olhos e mais profundo entendimento.
É perfeito.
oi, Mhel!
Raul Seixas? rs...Vc é multi mesmo.
Klimt também é bom e seu conto então...nem se fala.
Deu num belo post, claro.
Beijos
Muito bom, como sempre.
Beijos do *CC*
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