Sunday, February 19, 2006

VELHA ALEGORIA



O confete escorria com os restos da chuva.

No meio fio, passistas massageavam pés doloridos.
Olhos pisados, lágrimas que ultrapassavam a dignidade ofendida.

Descendo dos carros, velhos sambistas desfilavam a mágoa, samba da violência.

Proibidos de desfilar.

Conversas nervosas entre dirigentes, celulares estalando...


Vamos perder nota? Vamos perder tempo?
Vamos enxotar os velhos, encaixotar os velhos atrás do segredo?

De repente, uma ordem seca - a porta se abriu.
A Velha Guarda ultrapassou as grades, penetrou na Avenida.

Nem um surdo, um repique, um tamborim.
Apenas palmas cadenciadas da multidão, de pé, aplaudindo.

Atravessaram a Avenida cantando o samba,

sem bateria, plumas ou paetês.

Olhos molhados, a dignidade reencontrada.
A mais bela alegoria do Carnaval.


Dez, nota dez.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Foi a coisa mais triste e emocionante que já vi acontecer em todos os desfiles que assisti.
Aqueles velhos,com seus chapéus na mão, olhos marejados, silenciosos, sem um acorde a acompanhá-los, sem nada.
De repente, o povo todo aplaudindo, de pé e cantando o hino da escola: SALVE A VELHA GUARDA DA PORTELA!!!
Inesquecível!

2:54 PM  

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